Darius olha ao seu redor, parado ali e respirando com dificuldade com a espada ensanguentada na mão, e percebe que não há para onde correr. Quando os esquadrões de soldados perfeitamente organizados partem para a ação, ele percebe que a morte finalmente se aproxima. Darius, Desmond e Raj mantém suas posições; Darius enxuga o suor da testa com as costas da mão e encara os soldados que se aproximam. Ele não pretende recuar em hipótese alguma.
Há outro grande grito de batalha – desta vez, vindo de trás dele – e Darius se surpreende ao ver todos os aldeões se reunindo para o ataque. Ele vê vários de seus irmãos de armas se aproximando, procurando espadas e escudos nos corpos dos soldados do Império mortos e correndo para se juntar ao seu grupo. Os aldeões, Darius fica orgulhoso ao ver, cobrem o campo de batalhas como uma onda, vasculhando os corpos e armando-se com aço e armamentos até que, logo, vários deles estão empunhando armas de verdade. Aqueles que não possuem aço empunham armas feitas de madeira; dezenas de rapazes mais jovens, amigos de Darius, carregam lanças de madeira curtas que eles haviam afiado perfeitamente e pequenos arcos e flechas de madeira, ansiosos por um confronto como aquele.
Todos atacam ao mesmo tempo, como um só, lutando por suas vidas ao se juntarem a Darius para enfrentar o exército do Império.
Ao longe, um enorme estandarte balança ao vento, uma trombeta soa e o exército do Império se mobiliza. O barulho das armaduras preenche o ar à medida que as centenas de soldados do Império marcham para a frente como um só corpo, disciplinados, uma parede de homens, ombro a ombro, mantendo suas posições perfeitamente enquanto eles continuam marchando na direção da multidão de aldeões.
Darius lidera seus homens durante o ataque e todos permanecem destemidamente ao seu lado. Quando eles se aproximam do exército do Império, Darius grita:
"LANÇAS!"
Seu povo arremessa suas pequenas lanças, que passam voando por cima da cabeça de Darius e atravessam o ar, encontrando seus alvos do outro lado da clareira. Muitas das lanças de madeira acertam as armaduras e caem no chão sem causar qualquer dano, mas outras encontram pontos fracos nas armaduras e acertam seus alvos. Algumas dezenas de soldados do Império dão gritos de dor e caem no chão ao serem alvejados.
"FLECHAS!" Darius grita, ainda correndo com a espada na mão, diminuindo a distância entre eles.
Vários aldeões param, miram e soltam saraivadas de flechas de madeira afiadas. Dezenas delas cortam o ar e atravessam a clareira para surpresa do Império, que não tinha esperado qualquer resistência – e muito menos que aqueles aldeões tivessem qualquer tipo de arma. Muitas daquelas flechas não atingem seus alvos, mas um número suficiente delas acerta soldados no pescoço e nas juntas, ferindo muitos outros.
"PEDRAS!" Darius grita.
Várias dúzias de aldeões correm para a frente e, usando seus estilingues, começam a arremessar pedras.
Um bombardeio de pequenas pedras atravessa o campo de batalhas e o som de pedras acertando as armaduras preenche o ar. Alguns soldados, alvejados no rosto pelas pedras, caem no chão enquanto outros param e erguem seus escudos ou suas mãos na tentativa de impedir o ataque.
Aquilo diminui o ritmo do Império e acrescenta um elemento de incerteza às suas fileiras, mas ainda não é o suficiente para detê-los. Eles continuam marchando, sem sair de sua formação mesmo enquanto flechas, lanças e pedras continuam a acertá-los. Eles simplesmente erguem seus escudos, arrogantes demais para desviar, e marcham com suas alabardas de aço brilhante e suas longas espadas balançando em seus cinturões à medida que suas armaduras tilintam sob o sol da manhã. Darius os observa avançando e sabe que um exército profissional se aproxima dele. Ele sabe que aquela será uma onda mortal.
De repente ele ouve um estrondo e, ao olhar para cima, Darius vê três grandes Zertas se separando da linha de frente e partindo para cima deles, comandadas por três oficiais que empunham longas alabardas. As zertas atacam com fúria, levantando nuvens de poeira atrás delas.
Darius se prepara quando um deles se aproxima, fazendo uma careta ao erguer a alabarda e arremessá-la repentinamente em sua direção. Ele se surpreende com a velocidade da arma e desvia no último instante, escapando por pouco do golpe.
Mas o aldeão atrás dele, um garoto que Darius havia conhecido desde sua infância, não tem tanta sorte. Ele grita de dor quando a alabarda o acerta no peito; o sangue escorre pela sua boca e ele cai de costas, olhando para cima de olhos vidrados.
Darius, ensandecido, se vira e encara a zerta. Ele aguarda pacientemente, sabendo que se não esperar o momento perfeito, ele será pisoteado.
No último segundo Darius salta para fora do caminho e golpeia com sua espada, cortando as pernas da zerta com um único golpe.
A zerta grita e cai de cara no chão, arremessando o oficial para o meio do grupo de aldeões.
Um aldeão se afasta do grupo e corre na direção do oficial segurando uma pedra enorme nas mãos. Darius se vira e fica surpreso ao ver que se trata de Loti; ela segura a pedra no alto e bate com força no capacete do soldado, matando-o imediatamente.
Darius ouve o barulho de galope e vê outra zerta aproximando-se dela com um soldado sentado de lado empunhando uma lança ao mesmo tempo em que se prepara para alvejá-lo. Não há tempo para reagir.
Um rosnado corta o ar e Darius se surpreende ao ver Dray aparecer de repente e saltar no ar, mordendo o pé do soldado no mesmo momento em que ele arremessa a lança. O soldado cai para a frente e seu arremesso não vai muito longe, caindo no chão a poucos metros dele. Ele perde o equilíbrio e cai de cima da zerta, e assim que seu corpo toca o chão o soldado é atacado por diversos aldeões.
Darius olha para Dray, que se aproxima dele, sentindo-se eternamente grato pela presença de seu amigo.
Ele ouve outro grito de batalha e vê outro oficial do Império aproximando-se dele e erguendo sua espada, prestes a atacá-lo. Darius se vira e bloqueia o golpe, empurrando a espada para longe de seu peito antes que ela possa acertá-lo. Ele então gira o corpo e dá uma rasteira em seu oponente. O soldado cai no chão e Darius lhe dá um chute na mandíbula antes que ele se levante, fazendo com que ele desmaie.
Darius observa Loti passar correndo por ele, avançando para o meio da batalha ao mesmo tempo em que se abaixa para pegar uma espada na cintura de um dos soldados mortos. Dray corre na frente dela para protegê-la e Darius fica preocupado ao vê-la no meio daquela luta, desejando poder levá-la para um lugar mais seguro.
Loc, o irmão de Loti, tem a mesma ideia. Ele corre até ela e a agarra pela cintura, fazendo Loti derrubar a espada no chão.
"Temos que ir embora daqui!" ele diz. "Isso não é lugar para você!"
“Esse é o único lugar para mim!” ela insiste.
Mas Loc, mesmo com apenas uma mão, é surpreendentemente forte e consegue arrastá-la para longe enquanto ela protesta e se debate sem parar. Darius se sente mais agradecido do que jamais seria capaz de dizer.
Ele ouve um barulho metálico ao seu lado e vê um de seus irmãos de armas, Kaz, lutando com um soldado do Império. Embora Kaz sempre tenha sido um valentão e o tenha incomodado muito no passado, agora Darius tem que admitir estar feliz por tê-lo ao seu lado no campo de batalhas. Ele observa Kaz enfrentar o soldado, um guerreiro formidável, golpe por golpe, até que o soldado finalmente – com um movimento surpresa – surpreende Kaz e derruba a espada de suas mãos.
Kaz fica ali parado completamente indefeso e com uma expressão de pavor no rosto pela primeira vez desde que Darius consegue se lembrar. O soldado do Império, com sangue nos olhos, dá um passo adiante para dar o golpe mortal.
De repente, um barulho metálico corta o ar e o soldado fica paralisado e cai de cara no chão. Morto.
Darius e Kaz olham para o lado e ficam chocados ao ver Luzi ali parado, com metade do tamanho de Kaz e segurando um estilingue nas mãos instantes depois de ter terminado o seu arremesso. Luzi sorri para Kaz.
"Se arrepende de ter me incomodado agora?” ele fala para Kaz.
Kaz o encara boquiaberto.
Darius fica impressionado ao ver que Luzi, mesmo após ter sido atormentado por Kaz durante todos os seus dias de treinamento juntos, tenha se aproximado para salvar a vida dele. Aquele gesto inspira Darius a lutar com mais intensidade.
Ao ver a zerta abandonada correndo sem rumo entre as fileiras, Darius corre até ela e sobe no animal.
A zerta se contorce descontroladamente, mas Darius segura com todas as suas forças – determinado a não cair. Finalmente, ele assume o controle da fera e consegue virá-la na direção das forças do Império.
A zerta galopa tão rápido que ele mal pode controlá-la, levando-o na frente de seus homens, sozinho até o centro das forças do Império. O coração de Darius bate acelerado dentro de seu peito à medida que ele se aproxima da parede de soldados. Ela parece impenetrável dali. E agora, não há mais volta.
Darius força sua coragem a levá-lo adiante. Ele segue adiante e, ao mesmo tempo, golpeia descontroladamente com sua espada.
De seu ponto de vantagem mais alto, Darius golpeia de um lado para o outro, matando dezenas de soldados do Império que não haviam esperado um ataque de um aldeão montado em uma zerta. Ele atravessa as fileiras a uma velocidade inacreditável, dividindo o mar de soldados e sendo levado pelo seu impulso, quando de repente sente uma dor horrível na lateral de seu corpo. Ele tem a sensação de que suas costelas estão sendo cortadas em duas partes.
Darius perde o equilíbrio e é arremessado através do ar. Ele cai no chão com força tomado pela dor e percebe que tinha sido atingido pela bola metálica de um mangual. Ele fica deitado ali no chão no meio daquele mar de soldados do Império e longe de todo o seu povo.
Enquanto permanece ali, com sua cabeça latejando e seu mundo girando, ele olha para longe e vê seu povo sendo cercado. Eles haviam lutado bravamente, mas estão em completa desvantagem numérica e absoluta desvantagem de força. Seus homens estão sendo abatidos e Darius pode ouvir seus gritos dali.
Sua cabeça, pesada demais, bate no chão enquanto ele continua ali deitado e Darius vê todos os homens do Império se aproximando dele. Ele fica deitado – esgotado – e sabe que sua vida em breve chegará ao fim.
Ao menos, ele pensa, ele morrerá com honra.
Pelo menos, finalmente, ele será um homem livre.
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