Читать бесплатно книгу «Arena Um: Traficantes De Escravos » Моргана Райс полностью онлайн — MyBook
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Movimento-me com cautela através da clareira, olhando por cima de meu ombro para ter certeza de que não há ninguém me observando. Movo-me rapidamente, deixando grandes pegadas visíveis na neve. Quando alcanço a porta da frente, olho para trás uma vez mais e fico parada por vários segundos, apenas ouvindo. Não há nenhum som a não ser o do vento e o de um rio próximo, que corre ao lado da casa. Alcanço minha machadinha e, com sua parte de trás, bato com força na porta. Um barulho alto ressoa, para dar a qualquer animal que possa estar escondido na casa, um aviso final.

Não há resposta.

Abro rapidamente a porta, empurrando a neve para trás e então entro na casa.

O interior é escuro, iluminado apenas pela última luz do dia, entrando através das pequenas janelas, preciso de um momento para que meus olhos se ajustem à penumbra. Eu aguardo, de pé, com as costas contra a porta, alerta caso algum animal esteja utilizando esse espaço como abrigo. Mas, após vários segundos, minha visão se ajusta à fraca luz e está claro que estou sozinha.

A primeira coisa que noto nessa pequena casa é o seu calor. Talvez por ser tão diminuta, com um teto baixo e construída com as pedras da montanha ou talvez por estar protegida do vento. Mesmo com as janelas completamente abertas à natureza e com a porta entreaberta, deve estar uns quinze graus mais quente aqui – muito mais quente do que a casa de meu pai, mesmo com a lareira acesa. Sua casa fora construída com poucos gastos, as paredes são finas e o revestimento é vinílico e fica no canto de uma colina onde parece estar na rota de todas as ventanias.

Mas este lugar é diferente. As paredes de pedras são grossas e bem construídas. Sinto-me cômoda e segura aqui. Só consigo pensar em como este lugar ficaria ainda mais quente se eu fechasse a porta, pregasse tábuas nas janelas e acendesse a lareira – que parece estar em boas condições.

O interior é formado por uma grande sala, aperto meus olhos na escuridão para analisar o chão, procurando por qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, que eu possa resgatar. Incrivelmente, parece que, desde a guerra, ninguém mais entrou nesse lugar. Todas as outras casas em que  entrei tinham as janelas quebradas, escombros espalhados por todos os cantos e certamente haviam saqueado qualquer objeto útil, até as fiações. Mas esta não. Está impecável, limpa e arrumada, como se seu proprietário tivesse acordado um dia e simplesmente ido embora. Pergunto-me se foi antes de a guerra começar. Ao julgar pelas teias de aranha no teto, e sua ótima localização, tão bem escondida entre as árvores, eu acredito que sim. Ninguém entra aqui há décadas.

Vejo o contorno de um objeto na parede do fundo e me dirijo a ele, mãos à frente, tateando no escuro. Quando encosto, percebo que é uma cômoda. Passo meus dedos pela sua superfície lisa de madeira, posso sentir o pó que a cobre. Deslizo meus dedos sobre pequenas maçanetas – as alças das gavetas. Eu as puxo delicadamente, abrindo uma de cada vez. Está muito escuro para enxergar, então toco cada gaveta com minhas mãos, explorando a superfície. Não há nada na primeira gaveta. Nem na segunda. Por fim, abro todas rapidamente, minhas esperanças desaparecendo – quando, de repente, na quinta gaveta, eu paro. Ali, no fundo, sinto alguma coisa. Devagar, eu a tiro aos poucos.

Seguro o objeto contra a luz e, a princípio, não sei dizer o que é; mas logo sinto a folha de alumínio delatora e percebo: é uma barra de chocolate. Há algumas mordidas nele, mas ainda encontra-se em sua embalagem original e bem preservado. Eu desembrulho um pouco e o aproximo de minhas narinas para sentir seu cheiro. Não consigo acreditar: é chocolate de verdade. Não comemos chocolate desde a guerra.

O cheiro me causa uma pontada de fome, preciso de toda minha força de vontade para não abri-lo e devorá-lo. Eu me obrigo a permanecer forte, cuidadosamente o reembrulho e o guardo no meu bolso. Vou esperar até estar com Bree para desfrutá-lo. Eu sorrio ao imaginar a expressão dela quando comer sua primeira mordida. Será impagável.

Reviso rapidamente as gavetas restantes com a esperança de encontrar qualquer tipo de tesouro. Mas todas as demais se encontram vazias. Regresso à sala e a percorro em sua largura e extensão ao longo das paredes, por todos os cantos, procurando qualquer coisa. Mas o lugar está deserto.

De repente, piso em algo macio. Ajoelho-me para pegá-lo e o seguro o contra a luz. Estou impressionada: um ursinho de pelúcia. Está gasto e lhe falta um olho, mas, mesmo assim, Bree adora ursinhos de pelúcia e sente falta do que ela deixou para trás. Ficará eufórica quando vir este aqui. Parece que é seu dia de sorte.

Eu o coloco em meu cinto e, quando me levanto, minha mão esbarra em algo fofo no chão. Eu o agarro e o levanto e fico encantada ao me dar conta que é um cachecol. É preto e está coberto de poeira, por isso que não o vi no escuro, e, ao colocá-lo em meu pescoço e sobre meu peito, já consigo sentir seu calor. Eu o seguro para fora da janela e o chacoalho com força, removendo todo o pó; olho para ele sob a luz, é longo e grosso – não tem nenhum buraco. É como ouro puro. Eu imediatamente o coloco ao redor de meu pescoço e debaixo de minha blusa e já me sinto mais aquecida. Acabo até espirrando.

O sol está se pondo e como parece que eu já encontrei tudo o que podia, começo a sair. Ao me dirigir para a porta, de repente, bato meu pé em algo duro, de metal. Eu paro e me ajoelho, analisando se é uma arma. Mas não é. É uma alça de ferro, redonda, grudada ao chão de madeira. Parece um batente. Ou uma maçaneta.

Eu o puxo para a esquerda e para a direita. Nada acontece. Experimento girá-lo. Nada. Então fico ao lado e tento puxá-lo para cima, com força.

Um alçapão se abre, levantando uma nuvem de poeira.

Olho para baixo e descubro um forro, com um pouco mais de um metro de altura e um chão de terra. Meu coração acelera de alegria diante das possibilidades. Se morássemos aqui, e se acontecesse algum problema, eu poderia esconder Bree aqui embaixo. Essa pequena casa fica cada vez mais valiosa aos meus olhos.

E não é só isso. Ao olhar para baixo, percebo algo brilhante. Empurro a porta de madeira por completo e rapidamente desço a escada. Está escuro aqui embaixo e eu mantenho minhas mãos à frente, tateando o caminho. Assim que dou um passo à frente, sinto algo. Vidro. Há estantes na parede, e enfileirados nelas, há frascos de vidros. Frascos de conservas.

Eu pego um deles e o seguro na luz. Seu conteúdo é vermelho e mole. Parece geleia. Eu rapidamente retiro a tampa, levo o frasco ao meu nariz e sinto seu cheiro. O cheiro acre de framboesas me atinge como uma onda.  Meto o dedo, tiro um pouco do conteúdo e levo a minha boca. Não consigo acreditar: geleia de framboesas. Seu sabor é tão fresco que parece que foi feita ontem.

Aperto a tampa rapidamente, coloco o frasco no meu bolso e volto às estantes. Estendo minhas mãos e sinto mais dezenas de frascos na escuridão. Pego o mais próximo e retorno à luz, segurando-o. Parecem picles.

Estou deslumbrada. Esse lugar inteiro é uma mina de ouro.

Gostaria de levar tudo, mas minhas mãos estão congelando, não tenho nada para carregá-los e está ficando escuro lá fora. Então devolvo o vidro de picles aonde eu o encontrei, subo a escada e, ao regressar para o piso principal, fecho o alçapão atrás de mim. Gostaria de poder trancá-lo. Sinto-me insegura de deixar tudo aqui embaixo, desprotegido. Mas então me lembro de que esse lugar não é tocado há anos – e que eu provavelmente jamais o notaria se aquela árvore não tivesse caído.

Quando saio da casa, fecho a porta por completo, sentindo que devo protegê-la, sentindo como se essa casa fosse nosso lar.

De bolsos cheios, eu me apresso para chegar ao lago – quando, de repente, me amedronto ao perceber movimentos e ouvir barulhos. A princípio, tenho medo que alguém tenha me seguido; e, então, ao me virar lentamente, vejo algo a mais. Um cervo está parado, a três metros de distância, olhando para mim. É o primeiro que eu vejo em anos. É grande, seus os olhos pretos fixos em mim então, de repente, ele se vira e sai correndo.

Estou sem palavras. Passei meses procurando por um cervo, na esperança de chegar perto o suficiente de um e lançar minha faca nele. Mas eu nunca consegui encontrar, em lugar nenhum. Talvez eu não estivesse caçando no local certo. Vai ver eles sempre viveram aqui em cima.

Eu decidi voltar aqui, assim que amanhecer, e esperar o dia todo, se necessário. Se ele já esteve aqui uma vez, talvez retorne. Na próxima vez que eu achar um, vou matá-lo. Um cervo nos alimentaria por semanas.

Estou cheia de novas esperanças enquanto me dirijo ao lago. Assim que me aproximo, olho para minha vara de pescar e meu coração dispara quando vejo que ela está curvada quase na metade. Tremendo de emoção, corro através do gelo, escorregando, deslizando, e pego a linha, que sacode violentamente, e rezo para que ela aguente.

Estendo minha mão e a seguro firmemente. Eu consigo sentir a força de um peixe grande se distanciando e, silenciosamente, afrouxo a linha para que ela não se rompa. Dou um puxão final e o peixe sai voando pelo buraco. É um salmão enorme, do tamanho do meu braço. Ele aterrissa no gelo e dá pulos em todas as direções, deslizando. Corro e me agacho para alcançá-lo, mas ele resvala entre minhas mãos e volta a cair no gelo. Minhas mãos estão muito escorregadias para segurá-lo, então eu desenrolo minhas mangas e dessa vez o agarro com firmeza. Ele se debate e retorce em minhas mãos por uns trinta segundos até, finalmente, ficar parado, morto.

Estou maravilhada. É a minha primeira pesca em meses.

Sinto-me eufórica enquanto atravesso o gelo, em seguida, deixo o peixe na borda do lado, colocando neve por cima dele com medo de que de algum jeito ele ressuscite e volte para o lago. Tiro a vara de pescar e a linha e as seguro com uma mão e o peixe, com a outra. Posso sentir a compota de geleia em um bolso, a garrafa térmica com seiva no outro, junto com a barra de chocolate e o urso de pelúcia na minha cintura. Bree terá muita fartura hoje à noite.

Só falta uma coisa para levar agora. Vou até minha pilha de lenha seca, equilibro a vara em meu braço e, com minha mão livre, eu pego o máximo possível de lenha que consigo carregar. Eu derrubo algumas e não posso pegar tantas como eu gostaria, mas não reclamo. Posso voltar aqui no resto da manhã.

Com mãos, braços e bolsos cheios, eu desço deslizando pela íngreme montanha sob a última luz do dia, tomando cuidado para não deixar cair nenhum tesouro meu. Ao mesmo tempo, não paro de pensar sobre a casa. É perfeita e meu coração bate mais rápido diante de tais possibilidades. É exatamente o que precisamos. A casa de nosso pai é muito visível, construída em uma estrada principal. Tenho me preocupado há meses porque, assim, ficamos muito vulneráveis. Tudo que precisamos é que um comerciante de escravos inesperado passe por ali e então estaríamos em apuros. Estou querendo nos mudar faz muito tempo, mas não sabia para onde. Não há nenhuma outra casa aqui em cima.

Esta pequena casa, no alto, distante de qualquer estrada – e, literalmente construída na montanha – é tão bem camuflada que é quase como se tivesse sido construída apenas para nós. Ninguém conseguiria nos encontrar aqui. E, mesmo que nos encontrassem, não conseguiriam se aproximar com um veículo. Eles teriam que escalar a pé e, sob este ponto de vista, eu os detectaria a quilômetros de distância,

A casa também conta com uma fonte de água doce, um córrego que passa bem na frente de sua porta; eu não teria que deixar Bree sozinha toda vez que eu fosse sair para tomar banho ou lavar nossas roupas. E eu não precisaria carregar baldes de água, um de cada vez, do lago para nossa casa toda vez que preparasse uma refeição. Sem mencionar que, com aquela enorme folhagem das árvores, nós estaríamos escondidas o suficiente para poder acender a lareira toda noite. Estaríamos mais seguras, mais quentes, em um lugar cheio de peixes e caça – e equipadas com um sótão cheio de comida. Já me decidi – vamos nos mudar para lá amanhã mesmo.

É como se tivessem tirado um peso de meus ombros. Sinto-me como se tivesse renascido. Pela primeira vez, desde que me lembro, não sinto a fome me dilacerando, o frio perfurando meus dedos. Até mesmo o vento, enquanto desço, parece estar em minhas costas, me ajudando a descer e eu sei que as coisas finalmente mudaram. Pela primeira vez, desde que me lembro, sei que conseguiremos seguir em frente.

Agora, podemos sobreviver

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