Читать книгу «Um Destino De Dragões » онлайн полностью📖 — Моргана Райс — MyBook.
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“E daí?” Ela retrucou. “E você daria motivos para que seus novos súditos especulassem sobre sua sexualidade? Não, duvido muito disso. Não no mundo intrigante de Gareth. Não na mente do homem que se preocupa mais do que ninguém com o que as pessoas pensam dele.”

Gareth parou diante dela, percebendo que ela tinha uma maneira de ver através dele que o incomodava até o mais íntimo de seu ser. Ele entendeu a ameaça dela e percebeu que discutir com ela não serviria de nada. Então, ele ficou ali, em silêncio, esperando, com os punhos fechados.

“O que é que você quer?” Ele disse lentamente, tentando controlar-se para não acabar fazendo algo precipitado. “Você não viria a mim se não quisesse alguma coisa.”

Ela riu um riso seco, zombeteiro.

“Eu tomarei qualquer coisa que eu quiser. Eu não vim aqui para pedir-lhe nada. Mas sim, para lhe dizer uma coisa: todo o seu reino acabou de testemunhar seu fracasso ao tentar elevar a espada. Onde isso nos deixa?”

“O que você quer dizer com nos?” Ele perguntou tentando imaginar aonde ela queria chegar.

“Seu povo agora já sabe o que eu sempre soube: que você é um fracasso. Que você não é o Escolhido. Parabéns. Pelo menos agora isso é oficial.”

Ele rebateu.

“Meu pai não pôde empunhar a espada. Isso, efetivamente, não o impediu de governar como rei.”

“Mas afetou o seu reinado.” Ela retrucou. “Cada momento dele.”

“Se você está tão infeliz com minha incapacidade…” Gareth disse irritado. “… Por que você simplesmente não deixa este lugar? Deixe-me! Acabe com a paródia de nosso casamento. Eu sou o Rei agora. Eu não preciso mais de você.”

“Fico feliz que você tenha tocado nesse ponto…” Ela disse. “… Porque essa é precisamente a razão pela qual eu vim aqui. Eu quero que você termine o nosso casamento oficialmente. Eu quero o divórcio. Há um homem que eu amo. Um homem de verdade. De fato, um de seus cavaleiros. Ele é um guerreiro. Nós estamos apaixonados. A diferença de qualquer amor que eu tenha tido, o nosso amor é verdadeiro. Divorcie-se de mim, assim eu poderei deixar de manter esse assunto em segredo. Eu quero que o nosso amor seja público. Eu quero me casar com ele.”

Gareth olhou para ela chocado, sentindo-se vazio por dentro, era como se um punhal tivesse acabado de ser mergulhado em seu peito. Por que Helena tinha de aparecer? Por que ela tinha de aparecer justo naquele momento? Era demais para ele. Ele se sentia como se o mundo estivesse chutando-o enquanto ele estava caído.

Apesar de si mesmo, Gareth ficou surpreso ao perceber que ele tinha alguns sentimentos profundos por Helena, porque quando ele ouviu as palavras sérias dela pedindo-lhe o divórcio, ele sentiu algo estranho dentro dele. Isso o perturbou. Apesar de si mesmo, ele percebeu que não queria divorciar-se dela. Se a ideia tivesse partido dele, seria diferente, mas a ideia veio dela. Ele não queria que ela conseguisse fazer suas vontades, não tão facilmente.

Acima de tudo, ele se perguntava como um divórcio iria influenciar o seu reinado. Um rei divorciado levantaria muitas perguntas. E, apesar de si mesmo, ele se encontrou com ciúmes do cavaleiro. Ele estava ressentido com ela por ela ter esfregado na cara dele sua falta de masculinidade. Ele queria vingança. Queria vingar-se dela e de seu amante.

“Você não pode contar com o divórcio.” Ele retrucou. “Você está unida a mim. Atada como minha esposa, para sempre. Eu nunca vou deixar você livre. E se eu encontrar esse cavaleiro com o qual você está me traindo, eu vou mandar torturá-lo e executá-lo.”

Helena rosnou para ele.

“Eu não sou sua esposa! Você não é meu marido. Você não é homem. A nossa é uma união profana. Desde o dia em que foi forjada. Foi uma parceria organizada pelo poder. A coisa toda me repugna, sempre me deu nojo. Isso arruinou minha única chance de realmente estar casada.”

Ela respirava pesadamente, sua fúria era crescente.

“Você vai me dar o divórcio, ou eu vou revelar para todo o Reino a classe de homem que você é. Você decide.”

Com isso, Helena virou-lhe as costas, marchou pela sala e saiu pela porta aberta, sem nem mesmo se preocupar em fechá-la atrás de si.

Gareth ficou sozinho no quarto de pedra, ouvindo o eco dos passos de Helena e sentiu um intenso calafrio atravessar seu corpo, ele não podia parar de tremer. Havia ainda alguma coisa estável a qual ele pudesse apegar-se?

Enquanto Gareth ficou ali, tremendo, olhando a porta aberta, ele se surpreendeu ao ver alguém mais passar por ela. Ele mal teve tempo de processar a conversa com Helena, de analisar todas as suas ameaças, quando entrou um rosto muito familiar: Firth. Seus habituais passos saltitantes mudaram quando ele entrou na sala timidamente, com um olhar de culpa no rosto.

“Gareth?” Ele perguntou, soando inseguro.

Firth olhou para ele com os olhos arregalados e Gareth podia ver que ele realmente se sentia muito mal. Ele devia se sentir mal, Gareth pensou. Afinal de contas, tinha sido Firth quem tinha lhe dado a ideia de empunhar a espada; quem finalmente, o tinha convencido; quem o fez pensar que ele era mais do que realmente era. Sem Firth sussurrando tudo isso em seus ouvidos, quem sabe? Talvez Gareth nem sequer tivesse tentado erguer a espada.

Gareth se virou para ele, fervendo. Em Firth ele finalmente encontrou um objeto ao qual dirigir toda a sua raiva. Afinal, Firth foi quem matou seu pai. Para começar a história, foi Firth, esse garoto estúpido dos estábulos, quem tinha causado toda aquela confusão. Agora ele era só mais um sucessor fracassado da linhagem dos MacGil.

“Eu odeio você.” Gareth enfureceu. “Que tal suas promessas agora? O que me diz de sua confiança em que eu levantaria a espada?”

Firth engoliu saliva, olhando muito nervoso. Ele estava sem palavras. Claramente, ele não tinha nada a dizer.

“Desculpe-me, meu senhor.” Ele disse. “Eu estava errado.”

“Você estava errado sobre muitas coisas.” Gareth retrucou.

Na verdade, quanto mais Gareth pensava nisso, mais ele percebia quão errado Firth tinha estado. Na verdade, se não fosse por Firth, seu pai ainda estaria vivo e Gareth não estaria no meio daquele caos. O peso do reinado não estaria sobre sua cabeça, todas as coisas não teriam resultado tão mal. Gareth ansiava por dias mais simples, quando ele não era o rei, quando seu pai estava vivo. Ele sentiu um súbito desejo de trazer aquele tempo de volta, sentiu saudades da forma como as coisas costumavam ser. Mas ele não podia. E ele tinha Firth para culpar por tudo isso.

“O que você está fazendo aqui?” Gareth pressionou.

Firth limpou a garganta, obviamente nervoso.

“Eu ouvi rumores… sussurros de servos falando. Ouvi falar que seu irmão e sua irmã estão fazendo perguntas. Eles foram vistos no quarto dos empregados examinando a rampa de resíduos em busca da arma do crime. Ou seja, o punhal que eu usei para matar seu pai.”

O corpo de Gareth ficou gelado com essas palavras. Ele ficou congelado, em estado de choque e medo. Será que o dia ainda poderia ficar pior?

Ele pigarreou.

“E o que eles descobriram?” Ele perguntou com a garganta seca, as palavras mal saíam de sua boca.

Firth balançou a cabeça.

“Não sei, meu senhor. Tudo o que sei é que eles suspeitam de algo.”

Gareth sentiu um ódio renovado por Firth, um ódio que ele não sabia que era capaz de ter. Se Firth não fosse um trapalhão, se tivesse descartado a arma corretamente, ele não estaria naquela posição. Firth o havia deixado totalmente vulnerável.

“Eu só vou dizer isto uma vez…” Disse Gareth, chegando perto de Firth, aproximando-se de seu rosto e olhando furiosamente para ele com o olhar mais duro que conseguiu dar. “… Eu não quero ver seu rosto novamente. Você me entende? Deixe a minha presença e nunca mais volte aqui. Vou relegar você a uma posição muito longe daqui. E se alguma vez pisar dentro das muralhas do castelo de novo, tenha a certeza de que eu vou mandar arrestá-lo.”

“AGORA VÁ EMBORA!” Gareth gritou com fúria.

Firth virou-se e fugiu do quarto com os olhos cheios de lágrimas, seus passos ecoaram por muito tempo depois que ele desceu pelo corredor.

Os pensamentos de Gareth se voltaram para a espada, para sua tentativa fracassada. Ele não podia evitar sentir que tinha posto em marcha uma grande calamidade contra si mesmo. Ele sentia como se tivesse acabado de se jogar por um penhasco e que daquele momento em diante, ele só estaria enfrentando sua caída.

Ele ficou ali, grudado ao chão de pedra no silêncio do quarto de seu pai, tremendo. Ele se perguntava que classe de situação ele tinha criado. Ele nunca tinha se sentido tão só, tão inseguro.

Era isso o que significava governar?

*

Gareth se apressou pela escada de pedra em forma de espiral, percorrendo andar após andar, para chegar até o seu caminho no parapeito das muralhas mais altas do castelo. Ele precisava de ar fresco. Ele precisava de tempo e espaço para pensar. Ele precisava de uma vista apreciável do seu reino, de uma chance de ver a sua corte, o seu povo e de lembrar que tudo aquilo era seu. Ele precisava lembrar que apesar do pesadelo que tinham sido os eventos do dia, depois de tudo, ele ainda era rei.

Gareth tinha dispensado seus assistentes e corria sozinho, lance após lance respirando com dificuldade. Ele parou em um dos andares, inclinou-se e prendeu a respiração. Lágrimas escorriam pelo seu rosto. Ele continuava vendo o rosto de seu pai, repreendendo-o em cada volta.

“Eu odeio você!” Ele gritou para o vazio.

Ele podia jurar que ele tinha ouvido um riso zombeteiro de volta. O riso de seu pai.

Gareth precisava ir embora dali. Ele virou-se e continuou correndo, correndo, até que finalmente chegou ao topo. Ele entrou pela porta e o ar fresco do verão golpeou seu rosto.

Ele respirou fundo recuperando o fôlego, deleitando-se com a luz do sol, com a brisa quente. Ele tirou o manto, o manto de seu pai e jogou-o no chão. Estava quente demais e ele já não queria mais usá-lo.

Ele correu para a beira do parapeito e agarrou-se ao muro de pedra, respirando com dificuldade, olhando para baixo para sua corte. Ele podia ver a multidão interminável deixando o castelo. Eles estavam saindo da cerimônia. Sua cerimônia. Ele quase podia sentir sua decepção dali onde estava. Eles pareciam tão pequenos. Ele se maravilhou com o fato de que todos eles estavam sob seu controle.

Mas por quanto tempo?

“Reinados são coisas curiosas.” Disse uma voz antiga.

Gareth virou-se e viu, para sua surpresa, Argon ali a metros de distância usando um manto branco com capuz e segurando seu bastão. Argon olhava para ele com um sorriso no canto dos lábios, mas seus olhos não estavam sorrindo. Eles estavam brilhando, olhando através dele e eles deixavam Gareth nervoso. Eles viam demais.

Havia tantas coisas que Gareth tinha desejado dizer a Argon, que tinha desejado perguntar-lhe. Mas agora que ele já havia falhado em empunhar a espada, ele não conseguia se lembrar de uma única delas.

“Por que você não me contou?” Gareth suplicou com desespero em sua voz. “Você poderia ter me dito que eu não estava destinado a erguê-la. Você poderia ter me poupado dessa vergonha.”

“E por que eu faria isso?” Argon perguntou.

Gareth fez uma careta.

“Você não é um verdadeiro conselheiro do Rei.” Disse ele. “Você teria aconselhado meu pai lealmente. Mas não me aconselhou.”

“Talvez ele fosse merecedor de um conselheiro leal.” Argon replicou.

A fúria de Gareth aprofundou-se. Ele odiava aquele homem. E o culpava de tudo.

“Eu não quero você perto de mim. “Disse Gareth. “Não sei por que meu pai nomeou você, mas não quero você na corte do rei.”

Argon riu, era uma risada oca, apavorante.

“Seu pai não me nomeou, rapaz tolo.” Ele disse. “Nem o pai dele. Eu estava destinado a estar aqui. Na verdade, você pode dizer que eu os nomeei.”

Argon de repente deu um passo à frente e parecia que ele estava olhando para alma de Gareth.

“Será que eu poderia dizer o mesmo de você?” Argon perguntou. “Será que você está destinado a estar aqui?”

Suas palavras tocaram um nervo em Gareth, ele sentiu um calafrio percorrer seu corpo. Era o que Gareth tinha estado perguntando a si mesmo. Gareth se perguntava se elas eram uma ameaça.

“Aquele que reinar por sangue vai governar com sangue.” Argon proclamou e com essas palavras, ele rapidamente virou as costas e começou a se afastar.

“Espere!” Gareth gritou, não querendo mais que ele fosse embora, ele precisava de respostas. “O que quer dizer com isso?”

Gareth não podia evitar sentir que Argon estava dando-lhe uma mensagem: que ele não iria governar por muito tempo. Ele precisava saber se era isso que ele queria dizer.

Gareth correu atrás dele, mas quando ele se aproximou, Argon desapareceu bem diante de seus olhos.

Gareth virou-se, olhou ao seu redor, mas não viu nada. Ele ouviu apenas um riso oco, em algum lugar no ar.

“Argon!” Gareth gritava.

Ele virou-se novamente, em seguida, olhou para os céus, apoiou-se em um joelho, jogou a cabeça para trás e deu um grito estridente:

“ARGON!”

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