Seu mundo parece surreal enquanto a freira guia Caitlin pelo mosteiro, atravessando um corredor comprido. O lugar é muito bonito, e está claro que pessoas vivem ali; freiras em túnicas brancas caminham pra lá e pra cá, preparando-se, aparentemente, para a missa matutina. Uma delas balança um receptáculo, espalhando um incense delicado, enquanto as outras entoam suaves orações.
Após diversos minutos caminhando em silêncio, Caitlin começa a se perguntar onde a freia a estaria levando. Finalmente, elas param diante de uma única porta. A freira abre a porta, revelando um pequeno quarto simples, com uma vista para Paris. O quarto faz Caitlin se lembrar do quarto onde tinha ficado em Siena.
“Em cima da cama, você vai encontrar uma troca de roupa,” a freira diz. “Há um poço onde você pode tomar banho, em nosso pátio,” continua ela. A freira aponta, “e aquilo é pra você.”.
Caitlin acompanha a direção do dedo e vê um pequeno pedestal de pedra no canto do quarto, sobre o qual há um cálice de prata, cheio de um líquido branco. A freira sorri para ela.
“Você tem tudo o que precisa para uma noite de sono tranquilo. Depois disso, a escolha é sua.”
“Escolha?” Caitlin pergunta.
“Fui informada que você já tem uma chave. Você terá que encontrar as outras três. A escolha, no entanto, sobre cumprir sua missão e continuar a sua jornada, é sempre sua.”
“Isso é para você.”
Ela estica o braço e entrega uma caixa cilíndrica de prata, coberta por joias.
“É uma carta de seu pai, especialmente para você. Guardamos isso há séculos; ela nunca foi aberta.”
Caitlin a aceita com reverência, sentindo o peso em sua mão.
“Eu realmente espero que você continue em sua missão,” ela diz com voz suave. “Nós precisamos de você, Caitlin.”
A freira se vira para partir.
“Espere!” Caitlin grita para ela.
A freira para.
“Estou em Paris, certo? Em 1789?”
A mulher sorri para ela. “Está correto.”
“Mas por quê? Por que estou aqui? Por que agora? Por que este lugar?”
“Receio que isso seja algo que você tenha que descobrir sozinha. Eu sou apenas uma serva.”
“Mas por que fui atraída para essa igreja?”
“Você está na Igreja de São Pedro. Em Montmartre,” a mulher responde. “Ela está aqui há milhares de anos. É um lugar muito sagrado.”
“Por quê?” Caitlin insiste.
“Era aqui que todas as pessoas se reuniam para os votos para a fundação da Sociedade de Jesus; foi aqui que nasceu o Cristianismo.”
Caitlin a encara, sem reação, e a freira finalmente sorri, dizendo, “Seja bem vinda.”
E com isso, ela faz uma pequena reverência e parte, fechando a porta com cuidado.
Caitlin se vira e analisa o quarto. Ela se sente grata pela hospitalidade, pelas roupas, pela oportunidade de tomar um banho, e pela cama confortável que ela vê em um canto do quarto. Ela não acha que conseguiria dar mais um passo. Na verdade, ela está tão cansada, que sente que poderia dormir para sempre.
Segurando a caixa incrustada de joias, ela caminha até o canto do quarto e a coloca no pedestal. O pergaminho poderia esperar, mas sua fome não.
Ela ergue o cálice e o examina. Ela já pode sentir o que há dentro dele: sangue branco.
Ela leva o cálice até seus lábios e bebe. O líquido é mais doce que o sangue vermelho e ela engole com mais facilidade – fazendo com que o sangue corra por suas veias mais rapidamente. Dentro de instantes, ela se sente renovada, mais forte do que jamais havia sido. Ela poderia continuar bebendo para sempre..
Caitlin finalmente deixa o cálice e pega a caixa de prata, levando-a consigo para a cama. Ela se deita, percebendo o cansaço em suas pernas doloridas. A sensação de ficar apenas deitada lhe agrada.
Ela se encosta, apoiando a cabeça contra um pequeno e simples travesseiro e fecha os olhos, apenas por um segundo. Ela está decidida a abri-los em alguns instantes e ler a carta de seu pai.
Mas assim que seus olhos se fecham, o cansaço toma conta de seu corpo. Ela não conseguiria abri-los nem se tentasse. Dentro de segundos, Caitlin está profundamente adormecida.
Caitlin está no meio da arena do Coliseu de Roma, vestida em traje de batalha, com uma espada em punho. Ela está preparada para enfrentar qualquer pessoa que a desafie – na verdade, ela sente a necessidade de guerrear. Mas ao olhar para trás, e para todos os lados, ela vê que o estádio está vazio. Ela olha para as arquibancadas e vê que todos os lugares estão vagos.
Caitlin pisca, e ao abrir os olhos, ela não está mais no Coliseu, e sim no Vaticano, na Capela Sistina. Ela ainda está segurando a espada, mas agora está vestindo um manto.
Ela olha ao redor da sala e vê centenas de vampiros, alinhados de maneira organizada, vestindo mantos broncos e observando-a com olhos azuis brilhantes.
Caitlin deixa a espada cair no chão da câmara vazia, e ao tocar no chão o barulho metálico ressoa pelas paredes. Ela anda lentamente até o padre e, esticando o braço, pega das mãos dele um grande cálice de prata, repleto de sangue branco. Ela bebe com vontade, deixando que o líquido escorra por seu rosto.
De repente, Caitlin se encontrá sozinha no deserto. Ela está caminhando descalça pelo chão de terra batida, enquanto segura uma chave gigantesca nas mãos. A chave é tão grande- tão absurdamente grande – que o peso dela atrapalha seu avanço.
Ela caminha sem parar, com a respiração ofegante pelo calor até que, finalmente, ela chega a uma enorme montanha. No topo daquela montanha, ela vê um homem parado, olhando para baixo com um sorriso nos lábios.
Ela sabe que aquele é seu pai.
Caitlin sai em disparada, correndo o máximo que consegue, tentando chegar até a montanha, – cada vez mais perto dele. Enquanto ela corre, o sol atravessa o céu, ficando ainda mais quente, brilhando sobre ela, parecendo surgir de trás de seu pai. É como se ele fosse o sol, e ela estivesse indo na direção dele.
A temperatura aumenta à medida que ela ascende, e ela está quase sem ar ao se aproximar dele. Ele está parado de braços abertos, esperando para abraçá-la.
Mas a montanha se torna mais íngreme a cada instante, e ela está cansada demais. But the hill became steeper and she was just too tired. She couldn’t go any further. Ela cai onde está.
Caitlin pisca e, ao abrir os olhos, vê seu pai parado acima dela, olhando-a com um sorriso nos lábios.
“Caitlin,” ele diz. “Minha filha. Estou muito orgulhoso de você.”
Ela tenta esticar o braço, abraçá-lo, mas a chave está em cima de seu corpo, e é muito pesada, impedindo-a de se mover.
Ela olha para ele, tentando falar, mas seus lábios estçao rachados e sua garganta está seca.
“Caitlin?”
“Caitlin?”
Caitlin abre os olhos de repente, assustada.
Ela olha para cima, e vê um homem sentado ao seu lado na cama, observando-a sorridente.
Ele estica o braço, e gentilmente tira os cabelos da frente dos olhos dela.
Isso ainda é um sonho? Ela sente o suor frio em sua testa, sente o toque dele em seu pulso, e torce para que não seja.
Pois diante dela, sorrindo com carinho, está o amor de sua vida.
Caleb.
Sam repentinamente abre os olhos. Ele está olhando para o céu, para o tronco de um enorme carvalho. Ele pisca diversas vezes, tentando descobrir onde está.
Ele sente algo macio e bastante confortável em suas costas e, ao olhar, percebe que está deitado sobre musgos no chão de uma floresta. Ele olha para cima de novo, e vê dezenas de árvores acima dele, balançando com o vento. Ele ouve um barulho de água, e ao procurar a fonte, enxerga um pequeno riacho que corre por ali, a apenas alguns metros da cabeça dele.
Sentado, Sam observa o lugar a sua volta, olhando em todas as direções para absorver tudo. Ele está no meio de uma floresta, e a única luz disponível é a que consegue atravessas as copas das árvores. Ele olha para baixo e vê que está completamente vestido, com o mesmo traje de batalha que estava usando no Coliseu. O lugar onde ele está é calmo, o único som que ele ouve é o do riacho, dos pássaros e de alguns animais à distância.
Sam percebe, com alívio, que a viagem no tempo havia funcionado. Ele está obviamente em outro lugar e tempo- embora não faça a mínima ideia de quando e onde.
Sam verifica seu corpo atentamente, e percebe que não havia se ferido gravemente, e que se encontra ainda inteiro. Ele sente que a fome começa a incomodá-lo, mas sabe que ainda terá que esperar. Primeiro, ele precisa descobrir que lugar é aquele.
Ele apalpa o próprio corpo, procurando para ver se tinha alguma arma consigo.
Infelizmente, nenhuma delas havia sobrevivido à viagem no tempo. Ele está sozinho de novo, forçado a se defender apenas com as próprias mãos.
Ele se pergunta se ainda tem os poderes de um vampiro. Ele pode sentir uma força sobrenatural cursando suas veias, e pressente que sim. Mas por outro lado, ele não pode ter certeza até que experimente.
E a oportunidade se apresenta antes do que ele imaginava.
Sam ouve um galho se partindo, e ao virar vê um grande urso se aproximando dele lentamente e de forma agressiva. Ele fica paralisado. O urso ruge para ele, mostrando as presas.
Um segundo depois, ele começa a correr, exatamente na direção de Sam.
Sam não tem tempo para correr, e lugar nenhum onde se esconder. Ele logo percebe que não tem escolha, a não ser enfrentar o animal.
Estranhamente, ao invés de ser tomado pelo medo, Sam sente o ódio tomar conta de seu corpo. Ele está furioso com o animal. Ele não gosta do fato de ter sido atacado, especialmente antes que tivesse a chance de se recuperar. Então, sem pensar muito, Sam ataca também, se preparando para lutar contra o urso da mesma forma que faria contra um humano.
Sam e o urso se encontram na metade do caminho. O urso parte para cima dele, e Sam revida. Ele pode sentir o poder cursando suas veias, ele sente a força lhe dizendo que ele é invencível.
Ao encontrar o urso em pleno ar, ele percebe que estava certo. Agarrando o urso pelo ombro, ele segura firme, gira o corpo e o arremessa. O uso é lançado no ar por vários metros, atravessando a floresta e batendo de encontro a uma árvore.
Sam fica parado no lugar e ruge para o urso, um rugido feroz, ainda mais alto que o do animal. Enquanto grita, ele sente seus músculos e veias se contraindo.
O urso se levanta devagar, cambaleando, e olha para Sam com o que parece ser um olhar de surpresa. Enquanto anda, o urso manca e, depois de alguns passos incertos, abaixa a cabeça, dá as costas para Sam, e foge.
Mas Sam não vai deixar com que ele escape tão facilmente. Ele está nervoso, e sente que nada no mundo conseguiria abater sua raiva. E ele está com fome. O urso terá que pagar.
Sam sai em disparada, e fica contente ao constatar que é mais rápido que o animal. Dentro de poucos instantes ele alcança o urso e, com um único salto, vai parar nas costas dele. Ele afasta um pouco o rosto e então perfura o pescoço do animal.
O urso grita de dor, contorcendo seu corpo descontroladamente, mas Sam se mantém firme. Ele enfia suas presas ainda mais fundo e, em poucos minutos, sente o urso cair de joelhos a seus pés. Finalmente, ele para de se mexer.
Sam deita sobre o corpo do animal, bebendo, e sente a força vital do urso cursar todo o seu corpo.
Finalmente, Sam se afasta e passa a lingual nos lábios, coberto de sangue. Ele nunca havia se sentido tão revigorado. Essa é a refeição de que ele precisava.
Sam está prestes a se levantar quando ouve outro galho se partindo.
Ele olha para a direção do barulho e vê, – parada em uma clareira da floresta, uma jovem garota, com aproximadamente 17 anos, completamente vestida com um tecido branco e fino. Ela permanece imóvel, segurando uma cesta, e o observa com espanto. Sua pele é quase transparente, e seus longos cabelos castanhos combinam bem com seus grandes olhos azuis. Ela é linda.
Ela encara Sam, igualmente petrificada.
Ele se dá conta de que ela deve estar com medo dele, com receio de que ele a ataque; ele percebe que sua aparência provavelmente lhe parece repulsiva, em cima de um urso e com sangue na boca. Ele não quer assustá-la.
Então ele salta para longe do animal, dando vários passos na direção dela.
Para sua surpresa, ela não se mostra assustada, ou tenta escapar. Pelo contrário, ela apenas continua a encará-lo, sem medo.
“Não tenha medo,” ele fala. “Eu não vou machucar você.”
Ela sorri, o que o deixa surpreso. Ela não é apenas linda, é também muito corajosa. Como isso seria possível?
“Mas é claro que não vai,” ela responde. “Você é como eu.”
É a vez de Sam ficar espantado. No momento que ela diz isso, ele sabe que é verdade. Ele havia pressentido algo ao vê-la pela primeira vez, e agora ele tem certeza. Ela é como ele. Um vampiro. É por isso que ela não demonstra medo.
“Bom ataque,” ela diz, apontando para o urso. “Um pouco desajeitado, você não concorda? Por que não tentar um veado?”
Sam sorri. Ela não é apenas bonita – mas também tem senso de humor.
“Quem sabe da próxima vez,” ele responde.
Ela sorri.
“Você se incomoda em me dizer em que ano estamos?” ele pergunta. “Ou pelo menos em que século?”
Ela apenas sorri, balançando a cabeça.
“Eu acho que vou deixar você descobrir isso sozinho. Se eu lhe contar, estragarei toda a surpresa, não é mesmo?”
Sam gosta dela. Ela é corajosa. E ele se sente à vontade perto dela, como se a conhecesse há anos.
Ela dá um passo à frente, e estica o braço. Sam segura na mão dele, apreciando o toque suave de sua pele translúcida.
“Meu nome é Sam,” ele diz, apertando sua mão e segurando por mais tempo que o necessário.
Ela abre ainda mais seu sorriso.
“Eu sei,” ela diz.
Sam fica surpreso. Como ela poderia saber disso? Eles já haviam se conhecido? Ele não consegue se lembrar.
“Fui enviada para buscar você,” ela completa.
A garota de repente se vira e começa a caminhar por uma trilha na floresta.
Sam se apressa para alcançá-la, presumindo que ela queira que ele a siga. Sem prestar muita atenção para onde está indo, ele tropeça em um galho e pode ouvi-la rindo baixinho.
“Mas e aí?” ele insiste. “Você não vai me dizer qual o seu nome?”
Ela dá mais uma risadinha.
“Bem, eu tenho um nome formal, mas raramente sou chamada por ele,” ela informa.
E então, ela se vira e olha na direção dele, enquanto espera que ele a alcance.
“Se você insiste em saber, todos me chamam de Polly.”
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